Adão Ventura




 0. Amigxs! 

Tô finalizando a minha Licenciatura Português/Inglês e já troquei figurinhas sobre minha paixão por outras línguas com vocês, mais especificamente do Inglês, que voltei a estudar agora - depois de saltar de curso em curso em escolas especializadas, o que me levou a um Intercâmbio de um mês em Bath, na Inglaterra, em Janeiro de 1998 - com o objetivo de LER, COMPREENDER e TRADUZIR poesia americana contemporânea a partir dos textos originais: traduzir (ou mais apropriadamente transcriar) xs poetas do RAP se tornou uma verdadeira fixação, o que, em termos metodológicos, subsidia um projeto de mais fôlego, que é a análise, em termos da Linguística Estrutural, de poetas negrxs brasileirxs, RAPPERS ou não, mas que respondam, na estrutura de seus escritos, a relação com a Pós-Modernidade (a falta de uma definição exata de qualquer "Pós-Alguma-Coisa" é uma questão polêmica, e suas inúmeras interpretações em curso nos permitem outras tantas especulações). O fato é que, para estudar o RAP brasileiro e seus protagonistas, é preciso voltar-se às Músicas de Trabalho da época escravagista, matrizes para outras formas do "trovar" (texto+melodia) que alimentariam, num segundo degrau, Famílias Culturais inteiras, agora multisígnicas, enriquecidas por elementos alegóricos e plásticos que caracterizarão, em projeção móvel e circular entre a visualidade e o simbólico, o Lundu, o Maracatu, a Ciranda, o Jongo, o Maculelê, servindo até à Capoeira e ao Candomblé, ambos diversamente ramificados e enraizados ao mesmo tempo. (cujos ramos servem à mesma raíz) O Samba tem destaque nessa genealogia por hora condensada e, por razões pontuais, impôs-se tanto como via criativa e crítica do "estado" Brasil como serviu de espéculo à uma visada identitária do "ser brasileiro", um novo começo folclórico-moderno que satisfez sobretudo os públicos estrangeiros. Rapidamente, os sub-gêneros do estilo (aqui o prefixo "SUB" deve ser encarado como "SUPRA", inclusive porque estes "supra-gêneros" também matizariam frutos posteriores), seus poetas inspirados por seus comportamentos vitais frente à realidade presentificada - e não idealizada - impulsionaram o nascimento do Choro, do Samba Jazz, do Samba Rock; suas tonalidades também tocaram compositores que assumiram posturas renovadoras na Música Popular, primeiro com a Bossa Nova e depois pelas mãos Tropicalistas. Contemporaneamente, o pulso fincado de músicos-chave, de canções isoladas de apelo sedutor, de sambas-enredo incansavelmente cantados em uníssono são eleitos em veneração pelos samplers da música urbana, uma forma sincrônica (pra usar um termo saussuriano, estampado definitivamente no vocabulário de qualquer estudioso preocupado com as modernas correntes da Linguística pelos Formalistas Russos) de atualização da tradição, ou seja, esse neo-repentismo urbano busca renovar aquilo que está no passado mas que pode corresponder às suas necessidades estéticas (sonoras e poéticas) suscitadas pelo presente. Enfim, estudar o RAP brasileiro implica em voltar às manifestações basais da Música Preta Nacional e, ao mesmo tempo, cotejá-lo com o RAP estadunidense, que irrigou-o e serviu de exemplo pro Movimento Hip-Hop daqui. A PRIMEIRA PARTE desse meu trabalho consiste, então, na: 1. Escuta sobre as impressões do trecho traduzido (compartilho por enquanto uma das versões; são duas possibilidades, e a segunda se apresentará em outra etapa). A escolha dos meus amigxs-interlocutores, como dito, vem de afinidades particulares mas, sobretudo, pelo respeito e admiração à cada um de vocês, o que faz do convite, para mim, quase que uma etiqueta probatória, impulso que legitime os próximos passos e que sedimente nossa colaboração no processo. O material em PDF compartilhado, SEGUNDA PARTE, contém: a. Cabeçalho informativo com link para uma Biografia consistente do poeta Adão Ventura (ADÃO | e(P)v(E)á(L)t(A)i(D)c(O)o) b. Mais que Epígrafes, nosso PAIDEUMA indispensáveis para a dialética reflexão-prática que envolvem o método da "transcriação" (ABUSOS | E(n)P(u)Í(t)G(r)R(i)A(e)F(n)E(t)S(e)) c. Subsídios das estratégias escolhidas na transcriação. (p(P)e(E)r(D)f(R)u(A)m(S)e) d. O dátilo-manuscrito do poema "Do Amor | Sobre a Dor", um achado constante do acervo do poeta, "oficialmente inédito" mas constante na Cadernos. (TECSSTILL | elege, signa, expõe) e. A "Versão 01" da transcriação (lembrando que o remate VISUAL - as sobreposições manuais em palimpsesto, implicações que merecem atenção especial - é um recurso estilístico consciente cujas perturbações semânticas, operadas primeiro ao nível morfológico, resulta no abrupto do sintático). (AVE RELENTURA!) À cada Versão antecede uma breve explicação sobre as escolhas e/ou e estratégias metodológicas no processo de verter (“transcriar”, para ser mais exato), a partir do texto original em Português, os pulsos expressivos micrométricos impostos pelo poeta ao material verbal para a estruturação do poema. Sobressai já nos dois títulos a pista sonora principal – a consoante “d”: “Do amor/sobre a Dor” -, que vai se multiplicar ao longo de toda a peça, derivando outras palavras inteiras dentro de palavras maiores (aqui uma abordagem tmética parece-nos elucidativa para relevar o rendilhado embutido nesse caso específico, onde “a mínima articulação fônica é carregada de semântica” - HC). E mais: ao jogo aliterativo, especular e ecoante (manifestações que projetam, claramente, o fulcro da linguagem sobre a lógica da língua), índices do exercício da Função Poética, soma-se a alternância de substantivos e verbos no Particípio Passado, cujo diálogo intricado – por se tratar de duas classes gramaticais autônomas – torna a transcriação ainda mais sedutora. f. Exemplo de transcriação do Oriki "NO CU/DE EXU/A LUZ", do poeta Waldo Motta, constante em sua coletânea Bundo, de 1991. Como foi uma postagem, mantive o textinho explicativo do processo. 1. SEGUNDA PARTE a. ADÃO | e(P)v(E)á(L)t(A)i(D)c(O)o Aluno: Rodrigo Tangerino - Disciplina: Tradução 01 (Português | Inglês) Poema: "Do Amor - Sobre a Dor", de Adão Ventura (Santo Antônio do Itambé, MG, 1946 - Belo Horizonte, MG, 2013) ADÃO VENTURA: http://www.letras.ufmg.br/literafro/autores/489-adao-ventura Imagens: Adão Ventura e Dátilo-Manuscrito (poema inedito) - Ítens do Acervo do Autor em fase de Catalogação) b. ABUSOS | E(n)P(u)Í(t)G(r)R(i)A(e)F(n)E(t)S(e) "O trocadilho, ou, para empregar um termo mais erudito e talvez mais preciso, a paronomásia, reina na arte poética; quer esta dominação seja absoluta ou limitada, a poesia, por definição, é intraduzível. Só é possível a transposição criativa (...) ou, finalmente, transposição intersemiótica — de um sistema de signos para outro." ("Linguística e Comunicação", Roman Jakobson) "O poema é um ser de linguagem. O poeta faz linguagem, fazendo poema. Está sempre criando e recriando a linguagem. Vale dizer: está sempre criando o mundo. Para ele, a linguagem é um ser vivo, O poeta é radical (do latim, radix, radicis = raiz): ele trabalha as raízes da linguagem." ("Comunicação Poética", Décio Pignatari) "Então, para nós, tradução de textos criativos será sempre recriação, ou criação paralela, autônoma porém recíproca. Quanto mais inçado de dificuldades esse texto, mais recriável, mais sedutor enquanto possibilidade aberta de recriação. Numa tradução dessa natureza (...) traduz-se o próprio signo, ou seja, sua fisicalidade, sua materialidade mesma (...)" ("Da Tradução como Criação e como Crítica", Haroldo de Campos) "Essa tarefa (ado Tradutor) consiste em encontrar na língua para a qual se traduz a intenção, a partir da qual o eco do original é nela despertado. Aqui está um traço que distingue tradução e obra poética, pois a intenção desta jamais se dirige à língua enquanto tal, à sua totalidade, mas única e imediatamente, a determinadas relações linguísticas de conteúdo." ("A Tarefa do Tradutor", Walter Benjamin) c. p(P)e(E)r(D)f(R)u(A)m(S)e | o trinômio "dádiva/doado(a)/dado(a)" - salientando novamente a implicação operacional na conversão intra-lingual de famílias gramaticais distintas, cuja funcionalidade pode variar drasticamente - exigiu uma reflexão pontual, obrigando-nos a sucessivas leituras integrais do poema, de início testando, paralela ou isoladamente, as chances acústicas e semânticas; o que se percebe na transcriação final, cujas inversões de sentido apontam uma primeiridade incômoda para as expectativas confortáveis do literal e do linear, é resultado da movimentação aberta e consciente das três partículas, mirando uma rigorosidade na transposição do signo poético em si na trama do idioma de chegada (o Inglês), projetando a realidade fonêmica do idioma de partida ao assumir lateralmente a demarcação semântica oficializada: assim cumprimos a baliza fundante desse tipo de "operação", premissa do presente trabalho, descortinando ao receptor estrangeiro uma fidelidade nua e crua constante na realidade táctil intrínseca à manipulação da escritura. O arcabouço etimológico foi também instrumento de cotejo nesse cenário sugestivo, ainda que, no confronto analítico dos léxicos, a sinonímia redundante derivada de um radical comum, opaca a ponto de poderem tomar o lugar uma da outra sem qualquer abalo da mensagem. Em contextos específicos, as três guardam, em respiro contrário àquele ofuscamento recíproco, atributos de efeito plástico insubstituíveis; estes, porém, quando não eram suficientemente evocativos, não serviam aos encaixes definidos. Ilustramos o problema: "Dádiva" (robusta ao denotar "escolha divina", "dom" ou "benção") evolui do Latim "DATIVA", "algo entregue gratuitamente"; "DATIVA", por sua vez, tem origem em "DATUS", Particípio Passado de "DARE", nosso atual verbo "dar"; já "doar" suscede "DONARE", a ação de “dar um presente”, "transferir algo de um dono para outro dono", p. ex., que decorre de "DONUM", “presente", "brinde" ou (uma vez mais) "dom". | "O/A amor/dor | é doado/doada | DE PAPEL PASSADO? - o aproveitamento deapesar de os ditados, adágios e trocadilhos populares serem indiferentes aos pormenores que sustentam o largo abismo social, econômico e cultural dos brasileiros, raríssimos tem um carisma tão ambíguo quanto este que, ao concentrar, em graus equivalentes, formalidade e informalidade, se estica sem reclame: o termo denota, à maioria, sem a impressão da carência erudita, a expressão exata de um contrato assegurado de comunhão estável, assumido pelas partes sob incontestável ciência de responsabilidade; tênuemente oposta é sua outra componente, conotativa que, além de aceitável, integra os meios jurídico e burocrático sem maiores recalques. "De papel passado" é estar "Em conformidade com as disposições ou exigências da lei e com os documentos oficiais válidos no que toca o contrato matrimonial"; "Officially marryed". De direito, ato registrado em cartório. Em "Do Amor/Sobre a Dor" "de papel passado". signed and sealed signed and sealed (and delivered). Função Poética da Linguagem se ocupa.to get legally married d. TECSSTILL | elege, signa, expõe e. AVE RELENTURA! chances (etapa verbal - Versão Um das duas variações) FROM THE LOVE Is the loving debited? Is the loving doubted? Is the loving destined? Is the loving donated placed on a paper? Or is the loving dealed to be dominated? ABOUT/ABOVE THE HURT Is the hurting debited? Is the hurting doubted? Is the hurting destined? Is the hurting donated placed on a paper? Or is the hurting dealed to be dominated? ABOUT/ABOVE HURTING Is the hurting debited? Is the hurting doubted? Is the hurting destined? Is the hurting donated placed on a paper? Or is the hurting ditched to be dominated? (Versão 02) FROM LOVING Is a love debit? Is a love doubt? Is a love dowry? Is a love ditched placed on a paper? Or is a love donated to be dominated? ABOUT/ABOVE HURT Is a hurt debit? Is a hurt doub? Is a hurt dowry? Is a hurt ditched placed on a paper? Or is a hurt dealed to be dominated? TRANSCRIAÇÃO 02 - A MORTE ADÃO VENTURA FERREIRA REIS - Faculdade de Direito — 4º ano - 1967 Transcriação do poema A MORTE - exercício de Rodrigo Tangerino (jan/mai de 2023) Esse exercício de transcriação do poema A MORTE - texto que o nosso poeta escreveu ainda em 1967, submetido à um dos inúmeros concursos de poesias que pululavam principalmente nas Faculdades de Direito em todo o Brasil, pois elas formavam ainda, mesmo depois dos Períodos Colonial e recém-Republicano, o centro da cultura acadêmica, o que se refletiu, século vinte adentro, na tonalidade universitária semeada pelos primeiros cursos superiores do Brasil - vem acompanhado de outos três exercícios, esses cujos textos não são datados explícitamente, mas trazem um desafio interessante: são inéditos, são datilografados, são parte do acervo pessoal do poeta mineiro, hoje disponível para consulta em pasta de destaque na Universidade Federal de Minas Geraes. O primeiro deles, metapoema, DO AMOR/SOBRE A DOR, foi o primeiro sobre o qual nos arriscamos, fascinados pela existência, colada à sua estrutura física, de um re-pré-anti-pós texto rubricado e à lápis, sobre o dactiloscrito; o terceiro, também feito à máquina, o QUANDO DEUS CRIOU O CRIOLO, foi vertido pro inglês da mesma forma que primeiro; o A MORTE, trabalhado entre os outros dois, deixou-se ficar colorido, insinuando possibilidades várias de interpretação e, por isso, trago-o aqui dessa forma, correspondendo à cada cor sua familiaridade com a estrutura original do soneto: dois quartetos e dois tercetos. Achei relevante manter as cores, já que elas representam momentos diferentes do processo, e mesmo ideias simultâneas vindas da investigação linguística - é o único dos três que trás a reflexão de sua tradução de forma visual e cromática, suas escolhas e parâmetros consteladas na sombra do próprio original. Também serviu-me de referência a série POETAMENOS (1953), de Augusto de Campos, marco-zero da poesia concreta Brasileira e Internacional, publicada em NOIGANDRES 02 (1955). from death the death deathing death death's cut cut its cut are right fatally concretelly-concretes despite unless overall a landless untrurhfull. one landless untrurhfull. untoutchble alight. in alightning touch. alightning untouched. death´s rules rule its sun run preexists preactually insinues-divides passed the yes in througt the yes transparent nude. over of under. death's flow its cum inestalker intimism nonstalked intimism conected... in on... in now inknowing get now surprisingly besides the notes and its look it's being facing our own bloods. bloody our owns. in nude blues. TRANSCRIAÇÃO 03 - "DEUS QUANDO CRIOU O CRIOLO" Poema de Adão Ventura* (1939 - 2004) Deus quando criou o crioulo mandou que a luz existisse mas, a minha pele continua negra, negra como o embrião da noite, negra com a incompreensão dos homens. God's nigger nurturelly done light's rising were decreed while darked still remains my skin, being as a night's germ, blackout selfacing human's illness

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