#JundiáFilmes - Doce é o Dossiê - Pílula 02 - Gildo Nery Gatto


 "Fui nascido aqui em Jundiaí no dia três de setembro de mil novecentos e vinte e sete. Morava na Rua Barão do Bio Branco 31, lá é o local do meu nascimento, sou filho natural de Jundiaí."

Em outubro de 2013, Gildo Nery Gatto, sócio-fundador da Jundiá Filmes, figura dos "contatos", das "parcerias" e da "presença", sempre dinâmico - tudo isso se prova nas páginas do "Livro Ata Jundiá Filmes: 1955-60" -, concedeu-nos (à Leso e à Creusa Claudino, educadora e socióloga atuante no Museu Histórico e Cultural de Judiaí) uma entrevista no apartamento onde vive com sua esposa Virgínia, na Agapeama. Foi na mesma Agapeama que ele também dirigiu um cinema-de-rua, o Cine Teatro Brasil, ainda nos anos sessenta, tendo como sócio outro sócio-fundador da Jundiá: Alcides Chesschi. Seo Gildo foi nosso segundo entrevistado, após a primeira experiência com o secretário, assistente de produção e ator Reynaldo Bedin.

"Nós éramos pessoas que gostávamos da arte. E procuramos fazer o seguinte: incentivar o cinema Brasileiro". Sobre a gênese da Cia. Cinematográfica Jundiá Filmes - fundada em novembro de 1955 -, esse discurso se aproxima ao de Seo Reynaldo, no qual afirma, em entrevista, ter sido o teatro amador e o espectador de cinema suas entradas para a cena artística.
O segundo "orientador técnico" daquele coletivo inexperiente - esse pioneirismo pertence ao excepcional cinegrafista Élio Coccheo, já um dos mentores da Cia. -, foi Antunes Nasser, conhecido como Mister, fotógrafo que tinha uma loja dedicada aos processos fotográficos e venda de equipamentos na Av. Dr. Torres Neves. "Nós não tínhamos câmera... não tínhamos... apenas a vontade e o sonho de fazer alguma coisa sobre o cinema. O Nasser nos vendeu uma câmera pra gente fazer documentário." Nasser, Mister - ou Mestre! - aconselhou o grupo: "...(fazer documentários) é um problema, dá dor de cabeça e não se tem lucro nenhum..."
Num terceiro tempo, foi Primo Carbonari - o premiado e viajado jornalista jundiaiense, cuja obra em película vem passando por um processo turbulento de restauração graças à um desajuste entre os proprietários dos filmes e a empesa contratada - quem também trouxe noções fundamentais ao inventário técnico-criativo da Cia. Ele acompanhou uma comitiva da Jundiá Filmes até a Vera Cruz e, pelo que parece expressar Seo Gildo - presente nesta ocasião -, Primo trafegava com bastante desenvoltura por entre os cenários da produtora paulistana.
É na Vera Cruz que nossos amigos encontram com Carlos Coimbra, diretor em começo de carreira, que viria para Jundiaí rodar o primeiro longa da Jundiá Filmes, Crepúsculo de Ódios, de 1959. "Procuramos Carlos Coimbra... talvez ele tivesse pensado que nós fossemos uma empresa, mal sabia ele que a gente tava apenas começando. Ele montou um pedaço do filme, sugeriu o título...". O "Crepúsculo" teve muitos entusiastas, talvez mais seduzidos pela possibilidade mágica que envolvia o fazer cinematográfico daquela época. ""Vocês vão fazer outros?" Todo mundo achava que sim... mas dai veio a tv..."

.publicado em 08 de maio de 2017 - homenagem à Gildo Nery Gatto.

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