Oficina de Vídeo do Ponto de Cultura do Clube 28 de Setembro retoma suas atividades depois das férias
REPUBLICADO EM 21/10/2021
Durante a preparação da plataforma pedagógica para a Oficina de Vídeo, dois conceitos foram - e são - primordiais na confecção das atividades: a ideia de que "para ser professor basta ter sido aluno" (detectando, assim, as falhas comunicacionais entre educador e educando) e a de quê, assim como nas artes, não existe uma fórmula para um processo educativo, cabendo à criatividade e à observação o papel de gerir novas propostas que, como sugere Drummond acontecer com os poemas "que esperam ser escritos" em algum lugar do nosso inconsciente, considera a multiplicidade da cultura e de quem a faz. Essa experiência no convívio mostra-se eficaz no aprendizado e desperta os olhares dos que criam as alternativas de linguagem e vozes no cotidiano, seja para interferir na prática em suas comunidades, seja para aumentar o repertório de seus intelectos. Nesse sentido, nossa oficina – a primeira! - está sendo um educandário de como articular roteiros de aula e seus conteúdos.
O grande desafio é encarar os educandos de igual para igual, anulando certas posturas essenciais aos educadores tradicionais, exercitando o "clima de permissividade”, proposto por C. R. Rogers, teórico que sustenta o princípio básico segundo o qual toda pessoa é potencialmente capaz de aprender por si mesma, desde que lhe seja proporcionado uma oportunidade e um clima adequado ao desenvolvimento da liberdade interior, subjetiva, mediante a compreensão e a confiança. Esse ambiente consiste em proporcionar uma situação livre de pressões ou intervenção, onde se respeite a identidade e a individualidade vincada de cada aluno, lembrando que cada grupo é um organismo distinto, com necessidades próprias, escondidas pela rotina ou marcadas pela alienação. No caso dessa ação (realizada em parceria com a PAIM - Pastoral do Menor), muito do que estava previsto nos levou, de forma criativa e positiva, a torná-la mais significativa e intensa. A revisão das atividades em cada aula, por vezes trazendo resultados inesperados, contemplando de forma expressiva a expectativa que criamos, funda nosso objetivo, inversamente à crise que a educação formal enfrenta - que sabemos ter caráter ideodominatório: é perceptível a diferença entre um jovem que passa por um processo cultural e outros que, graças àquele plano, se encontram marginalizados.
O projeto não tem caráter profissionalizante: trabalha a importância e o prazer de se fazer um filme, demonstrando o senso coletivo intrínseco às produções audiovisuais, aplicando-o de maneira educativa. É, por assim dizer, uma maneira de se compreender a vida e as relações interpessoais, despertando a curiosidade e o desenvolvimento do indivíduo. O fascínio que a imagem em movimento desperta, ainda mais numa sociedade supravisual como a nossa, é o grande motor dos dois lados da corda, criando a sinergia necessária para que o produto final seja útil e único, com as marcas de quem o fez.
Ainda com um longo caminho pela frente, a pré-produção já trabalha na coleta de informações, personagens e situações: um dos filmes prevê a reconstrução histórica da Vila Ana - bairro pioneiro e exemplo internacional na aplicação da Rede de Desenvolvimento Local e tem como fundamento a detecção, via população, de suas principais necessidades, o que proporciona a valorização do espaço e de seus agentes aglutinadores: líderes já atuantes e moradores; o outro pretende realizar uma imersão no "talento" e nos “sonhos” das pessoas, tentando flagrar um panorama de seus desejos e frustrações, refletindo suas condições presentes.
Longe de solucionar diretamente os problemas da comunidade – mas apresentando uma alternativa de comunicação, fundamental nessa fase que o bairro enfrenta -, cabe a nós fomentar uma visão mais critica sobre a mídia, oferecendo ferramentas para que esses olhares aflorem e se apliquem nos registros filmados, contribuindo para a memória local, projetando uma compreensão geral do sistema, decodificando-o para transformá-lo.
Nosso trabalho entra agora em sua fase técnica: o aprendizado do equipamento - câmera, luz e som. A montagem e finalização estão previstas para o mês de setembro e os filmes serão lançados no próprio espaço do Clube - no mês em que completa 115 anos - e no Centro Comunitário da Vila Ana. As aulas têm a assistência de Marco Nunes e Emanuel Zaninetti, videastas e produtores da LesoVídeoFilmes.
Então, aguardem mais notícias aqui mesmo, procurem conhecer nossa Oficina (e as outras que compõem o Ponto de Cultura) e o Clube 28 de Setembro, abertos sempre a novos frequentadores, educadores e interessados em geral.
Grande abraço,
Rodrigo Tangerino, Marco Nunes e Manu Zani
Equipe LesoVídeoFilmes
(11) 7175.8161
Documentário completo: Vila Ana: Nosso Bairro (Direção Coletiva, 2012)
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